Endodontia: conheça essa especialidade da odontologia

Endodontia: conheça essa especialidade da odontologia

04/09/2022 - Por: Cassiano Pires

Aprenda tudo sobre a endodontia uma especialidade odontológica muito popular por tratar a vitalidade dos dentes.

Fique até o final para entender tudo sobre endodontia!

O que é Endodontia?

A Endodontia é a especialidade da Odontologia responsável pelo estudo da cavidade pulpar, do sistema de canais radiculares, da fisiologia e da patologia da polpa dentária, assim como do tratamento das alterações pulpares e dos tecidos periapical.

A polpa dentária é a responsável pela vitalidade do dente, é constituída por tecido conjuntivo que ocupa a cavidade interna da dentina e é composta por células, vasos sanguíneos, terminações nervosas, fibras e substâncias intercelulares.

Anatomicamente a polpa está dividida em polpa coronária (câmara pulpar) e polpa radicular (canais radiculares), correspondendo à coroa e à raiz do dente.

O que significa a palavra Endodontia?

A palavra Endodontia pode ser dividida em duas partes: “endo”= dentro, interno e “dontia”= dente. Portanto, é possível compreender, de maneira geral, que a Endodontia está relacionada ao estudo e tratamento das estruturas internas do dente.

O que é o tratamento endodôntico?

O tratamento endodôntico, também conhecido como tratamento de canal, consiste na remoção da polpa dentária que encontra-se inflamada, infeccionada ou morta e na limpeza e selamento dos canais radiculares com material obturador.

Dentro dos princípios básicos que norteiam o tratamento endodôntico encontram-se como requisitos fundamentais a limpeza e desinfecção do sistema de canais radiculares para se obter a sanificação desejada e propiciar condições para que os demais tecidos envolvidos retornem ao seu estado normal.

Créditos: freepik@unaihuiziphotography

Quando o tratamento endodôntico é indicado?

A dentina, tecido duro que envolve a polpa dentária, possui micro canais, também chamados de túbulos dentinários, que quando expostos, permitem a passagem de fluidos e microrganismos até a câmara pulpar.

O primeiro processo que ocorre na polpa e no periápice (região do término da raiz do dente) é a inflamação, que não deve ser considerada uma doença, mas um mecanismo de defesa do tecido conjuntivo contra microrganismos.

A polpa, por estar em uma região cercada por paredes duras da dentina, quando sofre o processo inflamatório e ocorre o edema (inchaço), gera uma pressão na região o que estimula as terminações nervosas e inicia-se um estímulo doloroso.

O que acontece se não for feito exame?

A dor decorrente da inflamação pode se tornar intensa e espontânea, e é a principal queixa que faz os pacientes procurarem por atendimento. Nesses casos, o quadro clínico é chamado de pulpite.

À medida que o processo inflamatório se agrava, pequenas regiões da polpa sofrem necrose e o contingente bacteriano aumenta. A inflamação passa a se tornar um processo infeccioso e estende-se por todo o canal radicular, chegando aos tecidos principais.

Conforme a infecção se agrava, os microrganismos se espalham para o periápice através do forame apical (abertura da raiz por onde passam os vasos sanguíneos e nervos) e estimula uma resposta inflamatória aguda no tecido periapical, chamada de pericementite.

Causas intensas

Nessa fase, é comum o paciente apresentar dor à percussão vertical (leve pressão no sentido longitudinal do dente que o Cirurgião-Dentista faz).

Com o passar do tempo, as bactérias formam colônias na região do periápice e do osso alveolar (osso presente na maxila e na mandíbula que sustenta e suporta os dentes na cavidade bucal), formando granulomas ou cistos, que caracterizam uma lesão periapical.

Quando o paciente procura por atendimento tanto em casos de pulpite como de lesão, o tratamento endodôntico é indicado.

endodontia
Imagem: Freepik

Como é feito o tratamento endodôntico?

Como citado anteriormente, a polpa apresenta algumas características clínicas de cada fase, desde o início do processo inflamatório até o infeccioso. O tratamento endodôntico realizado quando a polpa dentária apresenta-se viva, porém com quadro inflamatório irreversível, é chamado de biopulpectomia e quando a polpa encontra-se morta, é chamado de necropulpectomia.

Para realizar o protocolo adequado para cada caso e diminuir as chances de insucesso no tratamento, o Cirurgião-Dentista deve atentar-se a essas características, ao quadro de sintomas que o paciente apresenta e realizar um diagnóstico preciso.

Diagnóstico

O Cirurgião-Dentista deve seguir uma abordagem sistemática para conhecer as condições de saúde bucal e geral do paciente e determinar as causas da sintomatologia que ele apresenta.

  1. Anamnese

O primeiro passo para o diagnóstico correto de uma patologia é a anamnese, que é quando, através de perguntas, o profissional obtém informações úteis que servirão tanto para o diagnóstico quanto para se estabelecer o perfil geral de saúde do paciente.

Deve-se atentar cuidadosamente a pacientes portadores de doenças sistêmicas e os medicamentos utilizados para controle dessas doenças, pois alguns medicamentos têm potencial de interagir com fármacos comumente empregados na clínica odontológica, provocando reações indesejáveis.

  1. Exame clínico

No exame clínico, o Cirurgião-Dentista avalia a condição bucal e principalmente do elemento dentário ao qual o paciente referiu a dor. Além disso, é necessária a realização de alguns testes (teste de percussão, teste de vitalidade pulpar) que servirão para o profissional compreender a origem, a causa e a duração da dor, e consequentemente, diagnosticar a patologia pulpar.

  1. Exame radiográfico

Diferentemente de outras especialidades na Odontologia, na Endodontia, o profissional não tem uma visão direta das áreas comprometidas, o que dificulta o entendimento dos eventos que acontecem, desde a iniciação de um processo inflamatório, sua evolução e sua correlação com os sintomas clínicos.

Sendo assim, o exame radiográfico é um importante aliado, que juntamente com a anamnese e o exame clínico, servirão para o profissional fechar o diagnóstico.

O profissional consegue avaliar, através da radiografia periapical, se existe um processo inflamatório, devido ao espessamento do ligamento periodontal e se existe um processo infeccioso, devido a presença de lesão periapical.

Abordagem clínica

Para se alcançar o sucesso do tratamento endodôntico, o Cirurgião-Dentista deve, além de realizar um diagnóstico preciso, seguir um protocolo clínico que garantirá condições favoráveis para os tecidos periapicais se regenerarem.

De maneira geral, o primeiro passo da abordagem clínica é a aplicação de anestesia local a fim de promover o bloqueio das terminações nervosas e consequente alívio da dor.

Após a localização dos canais radiculares e determinação do seu comprimento com o auxílio de limas manuais e radiografia periapical, o Cirurgião-dentista faz o preparo da embocadura dos canais e dá início ao processo mais importante do tratamento endodôntico: o preparo biomecânico.

Qual é objetivo desse tratamento?

Além disso, o objetivo é obter um formato cônico afunilado dos canais, semelhante à sua forma original, viabilizando, dessa forma, as condições para uma obturação hermética.

Nos casos em que o elemento dentário apresenta lesão periapical, é comum o Cirurgião-Dentista realizar o tratamento endodôntico em duas ou mais sessões.

Dessa forma, o profissional realiza o preparo biomecânico e coloca uma medicação no interior dos canais (curativo de demora) que tem ação antimicrobiana, com o objetivo de reduzir o contingente bacteriano e combater a infecção.

Selar os canais radiculares

Na fase final do tratamento endodôntico o Cirurgião-Dentista realiza a obturação que é o processo de selar os canais radiculares com cones de guta percha e cimento obturador.

Geralmente o material mais utilizado para finalização é a resina composta, no entanto, quando a extensão da lesão envolve grande parte da estrutura coronária, o Cirurgião-dentista deve avaliar a restauração definitiva, pois,  pode ser que o dente não apresenta estrutura remanescente suficiente para suportar o material restaurador.

Nesses casos, uma peça protética (como uma restauração metálica fundida, inlay, onlay ou coroa total) pode ser melhor indicada.

Restauração definitiva

A restauração definitiva ou reabilitação protética tem um papel importante de selar a cavidade e evitar que microrganismos da cavidade bucal atinjam novamente a região dos canais radiculares e provoquem uma reinfecção.

Caso ocorra uma reinfecção dos canais radiculares, o tratamento mais indicado é o retratamento endodôntico, onde o profissional remove a obturação realizada anteriormente, e segue um novo protocolo de desinfecção e nova obturação.

Quais os aparelhos usados na Endodontia?

Como foi citado anteriormente, um dos passos mais importantes no tratamento endodôntico é o preparo biomecânico dos canais radiculares, tanto para a eliminação de focos de infecção, como para deixar os canais com formato mais adequado para receberem os cones utilizados na obturação.

Para realizar o preparo dos canais radiculares, o Cirurgião-dentista utiliza limas, que são pequenos instrumentos que são utilizados dentro do canal radicular e fazem pequenos desgastes. Essas limas podem ser manuais ou rotatórias.

As limas rotatórias são as mais empregadas atualmente e são utilizadas com o auxílio de um motor rotatório. Esse motor é semelhante aos outros motores utilizados pelo Cirurgião-dentista no consultório (alta e baixa rotação) e ele faz o movimento de girar, facilitando o desgaste das paredes dos canais radiculares.

Curiosidade

Estudos mostram que após o tratamento e o retratamento endodônticos, o dente torna-se mais friável e, portanto, mais suscetível a fraturas, que caso envolvam a raiz, é necessária a extração do elemento dentário. Apesar disso, é importante ressaltar que o tratamento endodôntico visa manter o elemento dentário na cavidade bucal e, portanto.

Deve ser realizado mesmo tendo a possibilidade de ocorrer a fratura, pois a extração de um elemento dentário gera uma série de alterações na cavidade bucal e nos demais dentes, que podem causar complicações no futuro.

 

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O Autor

Cassiano Pires

Cirurgião-dentista, mestre e doutorando em Endodontia (FORP-USP). Especialista em Radiologia e Imaginologia (AORP). Especialista de Produtos da área de Imagem na Alliage.

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